Wilma: “Ninguém quer ser pai e nem mãe de derrota”

  Antes mesmo de qualquer cumprimento, já é possível perceber algumas diferenças da Wilma de Faria governadora, cargo que ocupou durante sete anos, para a...

  Antes mesmo de qualquer cumprimento, já é possível perceber algumas diferenças da Wilma de Faria governadora, cargo que ocupou durante sete anos, para a Wilma de Faria ex-governadora. Ela chega pontualmente no horário marcado para a entrevista, diferente dos atrasos que chegavam a quase uma hora. Longe dos muitos assessores, hoje quem acompanha a líder do PSB é apenas a secretária. 
  Atenciosa, cumprimenta as poucas pessoas que estavam presentes à sede do PSB e logo parte para o gabinete, onde em seguida concede a entrevista. Fala com naturalidade da derrota, demonstra irritação ao dizer que não vai comentar as declarações do deputado federal João Maia. O parlamentar do PR creditou parte da derrota do governador Iberê Ferreira nas urnas ao fato dele ter “herdado uma delicada situação financeira”. 
  Embora afirme que não analisará a declaração de João Maia, Wilma de Faria dá uma pista do que pensa sobre o assunto: “Realmente existe uma coisa que ninguém quer ser pai e nem mãe de derrota, querem é encontrar uma pessoa que seja pai e mãe de derrota”, observa. A ex-governadora diz que agora poderá se dedicar mais à vida pessoal e ao partido. 
  Ela ainda demonstra certo desconforto ao falar da derrota, mas não deixa a provocação feita pelo senador Garibaldi Filho sem resposta. No último domingo, o peemedebista afirmou que o placar está 3 a 1 para ele, em relação a Wilma de Faria. “Mas em 2006 foram duas vitórias”, diz a líder do PSB. 
  O único momento na entrevista em que ela baixou a cabeça e fixou o olhar apenas no papel que estava na mesa foi quando o questionamento se referiu ao filho, Lauro Maia, que é réu no processo da Operação Higia. Wilma de Faria disse acreditar na inocência e defendeu: “Ele só fez o bem”. A seguir, a entrevista que Wilma de Faria concedeu à TRIBUNA DO NORTE:
 
  Depois da campanha e de ter viajado para descansar, o que a senhora fará a partir de agora?
É um recomeço. Como se diz popularmente a vida é cheia de recomeços. Estamos agora recomeçando uma nova etapa. Quem entra no jogo democrático e se apresenta a população como candidato, como líder, sabe que podemos ter vitórias e derrotas. Já tive muitas vitórias. Nesses últimos anos, seguindo cinco anos que passei na prefeitura, mais um ano de campanha e mais sete anos no governo, são 13 anos trabalhando sem ter férias. E um pouco dos 13 anos longe da presidência do partido. Até quando assumi o governo do Estado queria me afastar da presidência, mas ninguém quis, todos quiseram que eu continuasse, mas foi difícil para mim cuidar do partido. Terei oportunidade agora de cuidar da minha vida pessoal, cuidar da minha vida profissional. Vou ter oportunidade também de cuidar da vida do meu partido, que presido no Rio Grande do Norte. Vou fazer todo esse recomeço.
 
  Já deu para sentir falta do poder?
Não. Depende de como você faz uma análise sobre poder. Você tem várias formas de denominar o poder. Servir ao povo é uma forma de poder, você tanto pode servir na oposição como no governo.
 
  A senhora disse que vai se dedicar ao seu partido, que é o PSB. Mas depois de muitos anos ele (o partido) não vai ter nem o Executivo da capital e nem do Estado. O PSB passa agora pelo momento mais delicado da sua história no Rio Grande do Norte?
Não. De 1993 até 1997 o PSB ficou sem nada, só tinha cinco prefeitos no Estado, não tinha nenhum deputado estadual. Não tínhamos absolutamente ninguém. Não tinha prefeito de capital. De 1997 para cá, realmente, foram 13 anos do PSB no poder.
 
  O deputado federal João Maia deu recentes declarações afirmando que o governador Iberê Ferreira herdou uma situação financeira difícil. E destacou que essa dificuldade atrapalhou o desempenho do candidato do PSB nas urnas de 2010. Como a senhora avalia a declaração desse seu aliado João Maia?
Não vou responder a nada das coisas que as pessoas falem. Realmente existe uma coisa que ninguém quer ser pai e nem mãe de derrota, mas querem é encontrar uma pessoa que seja pai e mãe de derrota. Mas o que aconteceu? Aconteceu que o governo enfrentou dois anos de crise, 2009 e 2010, se existem dificuldades foi em função dessa crise. A prefeitura de Natal ou de Viçosa estão com dificuldades. O Estado do Rio Grande do Norte não é diferente. O fundo de participação que vai para os municípios vai também para o Estado.
 
  E quem é o pai ou a mãe da sua derrota?
Isso foi uma decisão popular. A gente tem que aceitar, por isso, que quero continuar servindo ao povo na oposição. Foi para isso que o povo me elegeu hoje.
 
  O senador Garibaldi Filho concedeu uma entrevista, publicada na TRIBUNA DO NORTE, e fez uma conta: 3 a 1 para ele, em relação à senhora.
Depende da conta que for feita. Não quero fazer essa disputa com ele. Mas em 2006 (quando ela disputou o primeiro e segundo turno com Garibaldi Filho para o Governo) ele perdeu duas vezes. 
 
  Então está 3 a 3?
É. Minha disputa não é com ele. Nem foi com ele.
 
  Com quem foi sua disputa?
A disputa foi entre aqueles que queriam dar continuidade a esse país que está crescendo, distribuindo renda e aqueles que trabalharam contra, aqueles que não querem. Não dá para numa entrevista como essa, mal terminamos a campanha, já estamos em outra campanha. Não tivemos condições de reunir os deputados, reunir o partido, fazer um estudo sobre tudo que aconteceu. Seria precipitada se fosse fazer diagnóstico dessa derrota. Só poderíamos falar daqui a 30 dias, depois que terminar essa campanha. Nós estamos em plena campanha ainda. O jogo democrático continua.
 
  O povo do Rio Grande do Norte foi desobediente ao presidente Lula (que pediu voto para Wilma de Faria e Iberê Ferreira)?
Não. Não foi ao presidente Lula. As vezes as pessoas não entendem, as pessoas podem se enganar, podem não ter entendido bem a nossa mensagem. Nós só tínhamos três minutos para dividir entre Wilma e Hugo Manso. Nós tínhamos uma grande história para contar ao povo. Nós poderíamos comparar os governos Wilma com os de Garibaldi e José Agripino. Poderíamos mostrar que mesmo na crise a gente fez mais, mais adutora, estrada, ponte, programas sociais, construímos mais casas, fizemos um programa maior de saneamento. Isso é uma coisa que nós fizemos e as pessoas viram. Ninguém fez mais no Estado do que nosso Governo. A aprovação do nosso Governo durante os sete anos e três meses fomos aprovados dentro de um parâmetro de 66% a 70%. Mas sempre aprovados. Nunca ninguém fez pesquisa para dizer que Wilma está com 30% ou 40% de aprovação, sempre era acima de 65%. Isso me deixa muito orgulhosa porque sei que cumpri meu dever.
 
  Como será sua atuação na campanha de Dilma Rousseff?
Estamos já participando, fazendo reuniões, participando de encontros. É um trabalho mais em grupo, falando com determinados segmentos da população.
 
  Nesse momento a senhora já visualiza a Prefeitura de Natal?
Não. Não tem nada disso. Se eu vou continuar na vida pública é uma decisão minha. Vou continuar. Agora se vou disputar um mandato eletivo já não é mais uma decisão minha, será uma decisão coletiva. 
 
  A senhora começou esta entrevista falando da preocupação com o PSB. O fortalecimento de um partido não passa pelo lançamento de candidatura própria no principal colégio eleitoral?
A gente tem mais de 300 vereadores espalhados por todo Estado, 44 prefeitos. Mas não vou discutir isso porque não debati. Não posso responder nada sobre isso. É uma decisão que deve ser coletiva do grupo do PSB, que vai ouvir a população. Pode ser que alguém queira ser candidato, ou façamos uma aliança com outros partidos que comunguem dos mesmos interesses do nosso partido.
 
  Como a senhora avalia essas dificuldades financeiras enfrentadas pelo governador Iberê Ferreira? Heranças do governo Wilma?
As dificuldades que têm hoje são as dificuldades que todos os demais governadores do Nordeste têm. Se você tem um déficit orçamentário com relação a arrecadação você vai ter problema. O orçamento foi enxuto e não se conseguiu arrecadar o que estava previsto. Há dificuldade. A crise é responsável por isso. A crise está passando, estamos de novo crescendo no Brasil, mas a questão dos recursos de 50% vem de transferência do Governo Federal, como houve incentivos dados isso não passou.
 
  O governador Iberê assumiu há sete meses. Essa dificuldade financeira ela tem origem na sua administração?
Na minha administração a gente tinha problema. O ano de 2009 foi todo em crise. A crise eclodiu em outubro de 2008, mas só foi refletir no Rio Grande do Norte em 2009. Seria o melhor ano da administração, nosso orçamento estava com expectativa muito boa de investimento, mas infelizmente nós tivemos a crise no Brasil todo e tivemos dificuldade. 
 
  Depois de sete anos na gestão estadual, o que a senhora deixou para a governadora eleita Rosalba Ciarlini fazer?
O que precisa ser dado continuidade é com relação a melhoria dos serviços públicos na área da saúde e segurança. Nós temos no Brasil grandes problemas nessas áreas. Depois que a classe média deixou a saúde e passou a ter plano de saúde, deixou a escola pública, passou a colocar os filhos na escola privada, sofremos uma mudança. No Governo de Fernando Henrique Cardoso foi mais preocupação em universalizar ensino fundamental, mas a qualidade ficou de lado. O Governo Lula foi que começou a fazer avaliações para ver a qualidade do ensino e a partir daí começou então a ter preocupação de todos em relação ao serviço público importante e o instrumento de mudança como é a educação. O meu governo e o governo Iberê deixarão muitos recursos para dar continuidade a obras de saneamento, de infra-estrutura, como o parque da cidade de Mossoró, vamos deixar muitos recursos para 10 centros profissionalizantes.  Há muitos recursos para dar continuidade a investimentos.
 
  A senhora se arrepende de não ter sido candidata a deputada federal, já que poderia estar eleita?
Se eu pensasse só em mim eu teria sido candidata a deputada federal, faria mais dois deputados federais da coligação. No entanto, pensei no povo do Rio Grande do Norte. Oferecei uma disputa. Se não tivesse sido candidata a senadora já havia nomeação de Garibaldi e José Agripino como senadores. Permiti a disputa e a opção. 
 
  Como a senhora acompanha o desdobramento da Operação Higia envolvendo seu filho Lauro Maia, que é réu no processo?
É natural, quero que isso seja feita imediatamente. Ele foi acusado antecipadamente por setores da imprensa. As pessoas especulam isso. É interessante que se faça justiça e ele mostre que está com a verdade. Não tem prova contra ele, nenhum mal ele fez. Ele só fez servir e o bem a população.
 
  A senhora trabalha a indicação da deputada Márcia Maia para conselheira do TCE, fazendo Lauro Maia (que é primeiro suplente) ganhar foro privilegiado?
Não existe nada sobre isso. É especulação. Não tem nada definido em relação a isso.
 
 
Fonte:
Site da Tribuna do Norte
www.tribunadonorte.com.br
 Anna Ruth Dantas - repórter
Publicado em 24/10/2010
 

 

Outras Notícias