A Polícia Militar preparou um forte esquema de segurança para evitar novos atentados durante o final de semana. As ações foram anunciadas ontem pela manhã durante coletiva à imprensa no Comando Geral da Polícia Militar. No dia anterior, bandidos atearam fogo em oito veículos na Grande Natal. Alguns também assaltaram passageiros. Antes de anunciar as medidas, a Polícia Militar havia se reunido com a Secretaria Estadual de Segurança Pública. Na manhã de sábado, o comandante geral conversou com oficiais de todas as companhias e batalhões do Rio Grande do Norte e com representantes dos sindicatos das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros do Município do Natal e dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário.
Segundo coronel Araújo, comandante geral da Polícia Militar, todos os 1,2 mil policiais militares estão a disposição da Corporação. Com o intuito de evitar novas rebeliões nos presídios -na última semana ocorreram duas- o Comando Geral da Polícia Militar enviou cerca de 50 policiais para o presídio de Alcaçuz, presídio provisório Raimundo Nonato, presídio feminino e presídio estadual e Parnamirim. Eles vão reforçar a guarda externa e auxiliar os agentes penitenciários, que não entraram em greve, e permanecerão nos presídios até segunda ordem.
O jogo entre ABC e Vitória, que ocorreu na tarde de ontem no Frasqueirão, também contou com o reforço de 400 PMs. Os ônibus que traziam o time e a torcida do Vitória foram revistados no posto policial da Polícia Federal, em São José de Mipibu, antes de seguir para o Frasqueirão. O trajeto contou com a escolta da PM. A polícia temia confrontos e novos atentados na entrada e saída dos torcedores. Por isso, enviou policiais a pé, em motocicletas, cavalos e viaturas para os principais pontos da cidade na tarde de ontem.
Viaturas patrulham a cidade desde a madrugada de sábado. No roteiro, também estão terminais e garagens de ônibus. O número de policiais será reduzido apenas na segunda-feira, caso nenhum novo atentado seja registrado. Os policiais também estão abordando duplas em motocicletas. Segundo testemunhas, a maioria dos atentados que ocorreram na última sexta-feira foi praticada por duplas em motocicletas. A medida é preventiva. A segurança nas praias urbanas também será reforçada hoje.
Na coletiva à imprensa, coronel Araújo Silva afirmou que a transferência dos 16 apenados, que foram retirados do presídio de Alcaçuz e levados para o presídio de segurança máxima em Alcaçuz na sexta-feira, foi uma medida emergencial. Ele não descartou a possibilidade de novas transferências no final de semana, e afirmou que "se os apenados não tivessem sido transferidos, a situação poderia estar bem pior".
Força Nacional ajuda na investigação
O Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP) esperava concluir a perícia de todos os veículos envolvidos nos atentados ainda ontem. Até o fechamento da edição, sete dos oito veículos já haviam sido periciados pela equipe, que conta com reforço do perito criminal Domingos Sávio Rima, da Força Nacional. Sávio é do Mato Grosso do Sul e está no Rio Grande do Norte há 15 dias. Ele trabalha na elucidação de homicídios. Na manhã de sábado estava de folga, mas foi chamado pelo secretário de segurança para periciar os veículos 'por se tratar de um caso especial'.
No alternativo de placa MYV 8429, incendiado entre Cajupiranga e o sítio Vita Gema, na estrada de Pium, entre Parnamirim e Pirangi, a equipe do Itep encontrou uma garrafa Pet usada no atentado além de uma sacola plástica com os dizeres "Ledilidio 'S'ela (4)", escrita com caneta piloto. Segundo o motorista do alternativo, Jeremias Francisco da Silva, 43, os jovens que atearam fogo entraram no veículo com a garrafa dentro da sacola. O material foi recolhido e será analisado. "Vamos tentar coletar as digitais e tentar chegar aos responsáveis", afirmou. Apesar de ser da Força Nacional, Sávio esclarece que as provas coletadas em todos os veículos serão analisadas pela Secretaria Estadual de Segurança, no próprio Rio Grande do Norte.
Nos outros veículos não foram encontradas provas semelhantes as coletadas no alternativo, com placa de Parnamirim. As imagens captadas pelas câmeras instaladas nos ônibus, porém, também serão usadas como prova, diz o perito. Segundo coronel Araújo Silva, comandante geral da Polícia Militar, as imagens já foram encaminhadas para o setor de inteligência da Polícia. As câmeras, explica Araújo, registraram a ação dos 'vândalos' e permitirão que muitos sejam identificados. A maioria dos homens que atearam fogo nos veículos é jovem e não cobria o rosto.
População permanece com medo
Embora a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros não tenham registrado nenhum novo atentado na Grande Natal até o fechamento desta edição, o medo ainda impera na cidade. A doméstica Angela Maria Pereira, 53, aguardava o ônibus aflita. O nervosismo era tamanho que ela não conseguia lembrar a linha que tomaria para ir para casa. "Acabo de vir do psiquiatra. Só saí de casa, porque a consulta já estava marcada. Tomo três remédios controlados. Imagina se uma coisa dessas acontece comigo", angustia-se. Inquieta, Maria Angela abre a bolsa e retira a receita 'azul' que acabara de receber do psiquiatra. Ela estava em casa quando recebeu a notícia dos atentados. Os dois filhos estavam fora.
Maria ainda tentou ligar para os dois, ao mesmo tempo em que mantinha os olhos fixos na televisão. Não conseguiu falar com nenhum deles. "Fiquei muito nervosa. Meus filhos pegam aquela linha", diz, referindo-se a um dos ônibus incendiados. Depois de muita insistência, Maria Angela conseguiu falar com um dos filhos. Minutos depois, a confirmação. Estavam todos a salvo. "É muito difícil ocorrer isso aqui", diz, aliviada, mas ainda muito nervosa.
Jeremias Francisco da Silva, 43, também acompanhou tudo. Mas não pela televisão. Ele é motorista de um dos veículos incendiados: o alternativo em Parnamirim. Francisco transportava cerca de 20 passageiros quando de repente alguns jovens anunciaram o assalto. Eles se passaram por passageiros, mas demoraram pouco tempo dentro do alternativo. Na estrada de Pium, pediram para o motorista parar numa área mais remota, mandaram todos descerem e deitarem no chão. Antes de fugirem com os pertences dos passageiros e do cobrador, incluindo a carteira com todos os documentos, picharam a sigla do PCC em todo o alternativo, jogaram combustível e atearam fogo. O cobrado e o motorista conseguiram apagar o fogo com um extintor que estava no alternativo antes que as chamas atingissem todo o veículo.
O cobrador ainda conseguiu ligar para a mulher. "Vi que uma das passageiras estava com o celular". No outro lado da linha, a mulher soube que estava tudo bem. Jeremias, motorista do alternativo, também conseguiu tranquilizar a família. Depois, tentou se acalmar. "Na hora recorri à Deus e pensei na minha família". A frota de ônibus voltou a circular normalmente na manhã de ontem. Motoristas e cobradores haviam retirado os ônibus de circulação na noite desta sexta-feira após os ataques aos veículos.
Fonte:
Site da Tribuna do Norte
www.tribunadonorte.com.br
Publicado em 18/09/2011