Brasileiras na segurança pública já são 78 mil e buscam mais representatividade

Pioneiras na América Latina, as brasileiras se inspiraram nas polícias de outros países para exigir seu espaço há quase 70 anos. A luta por igualdade e por...

Pioneiras na América Latina, as brasileiras se inspiraram nas polícias de outros países para exigir seu espaço há quase 70 anos. A luta por igualdade e por respeito dentro de um ambiente predominantemente masculino, tanto no trabalho quanto na percepção social, ainda existe e é necessária. Mas elas já ganharam nosso imaginário em superproduções com protagonistas que lideram soluções de crimes espantosos, como no enredo da nova série do canal AXN, "Bright Minds", que estreou nesta última quarta, 13 de outubro.

"A criação da polícia feminina é, pois, de se aconselhar formalmente, sendo encomiástico um voto para seu imediato estabelecimento, consubstanciando uma corporação que formará harmonicamente ao lado de seus irmãos, os policiais, para o melhor cumprimento da lei de da manutenção da ordem, dentro dos ditames da compreensão, do auxílio e da bondade."

Foi assim, com esse português pomposo, que Hilda Macedo defendeu publicamente o ingresso de mulheres no efetivo da polícia brasileira. A advogada e pioneira do policiamento feminino já era assistente da cadeira de Criminologia da Escola de Polícia de São Paulo quando fez esse discurso, durante o primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Criminologia, em 1953.

Influenciado também pela presença crescente de policiais mulheres em outros países, o então governador paulista, Jânio Quadros, pediu um estudo sobre o assunto e logo aceitou a ideia. Em 12 de maio de 1955, as 13 primeiras policiais femininas do Brasil (e da América Latina) se apresentaram para o trabalho, com a comandante Hilda Macedo na liderança. Poucos meses depois, elas já eram quase cem.

Nessa época, os trabalhos do chamado Corpo de Policiamento Especial Feminino da Guarda Civil eram voltados principalmente para a proteção de mulheres e crianças. Hoje as profissionais femininas estão presentes em todas as áreas de segurança pública e em todos os estados do Brasil – o que não evita que, ao ler "as policiais" neste artigo, o corretor tenha automaticamente sugerido que se escrevesse "os policiais" no lugar.

Quase 70 anos depois daquele primeiro efetivo de São Paulo – que ficou conhecido como "as 13 mais corajosas de 55" –, as mulheres conquistaram muito espaço, mas ainda são uma parcela minoritária das forças nacionais. Em números, hoje há cerca de 45,8 mil mulheres na Polícia Militar e 32,2 mil na Polícia Civil. Em termos de proporção, no entanto, elas somam apenas 11% do efetivo ativo da Polícia Militar e 27,6% da Polícia Civil, segundo dados de 2019 do IBGE.

Vivendo com as consequências desse desequilíbrio todos os dias e cada vez mais determinadas a mudar esse cenário, as profissionais se uniram para criar o Movimento Mulheres na Segurança Pública em 2019, com o objetivo de ocupar espaço na liderança, incentivar outras jovens e reforçar direitos, especialmente aqueles relacionados à gestação e à maternidade.

Uma das lideranças do grupo é Raquel Gallinati, que em 2016 se tornou a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. E foi durante o II Congresso Brasileiro sobre Mulheres na Polícia, em um evento que teria feito brilhar os olhos de Hilda Macedo, que Gallinati ofereceu uma visão do século 21 para as peritas criminais, legistas, investigadoras, escrivãs e tantas outras colegas da segurança pública: "A profissão não tem sexo, não tem gênero. Ela está ali para se exercer de acordo com a aptidão".

 

Fonte: Marie Claire

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