A história se repete: morre um policial militar em Natal, vítima de assassinos, e, no dia seguinte, são registrados vários casos de execuções na capital do estado. Apesar disso, a Polícia Civil não confirmou por mais uma vez a ligação entre as ocorrências de homicídios. Para os delegados, que reuniram ontem (16) a imprensa em entrevista coletiva, ainda é cedo para afirmar a motivação dos crimes.
No primeiro episódio desta forma, ocorrido no fim de setembro na Zona Norte da cidade, a própria secretária de Segurança Pública e Defesa Social, Kalina Leite, negou a possibilidade de os assassinatos em série serem uma represália à morte de um PM vítima de violência um dia antes.
Assim como naqueles dias, este fim de semana passado foi marcado por uma tarde violenta no domingo (15), feriado da Proclamação da República. No bairro de Felipe Camarão, em um espaço de apenas 15 minutos, quatro pessoas foram assassinadas e outras cinco ficaram feridas a tiros disparados por criminosos ainda não identificados. Ainda no início do domingo, outros dois homens já tinha sido executados no mesmo bairro.
Felipe Camarão fica ao lado do bairro de Cidade Nova, onde no sábado (14) o cabo Marcos Aurélio Lopes, da Polícia Militar, foi assassinado e teve a pistola roubada.
No dia seguinte ao crime, o primeiro assassinato registrado pela Polícia Militar do RN (PM-RN) em Felipe Camarão da sequência de quatro foi na Travessa Santa Isabel. Marcone Linhares do Nascimento, 35 anos. Ele estava na calçada de casa quando recebeu oito disparos.
Nascimento morreu no local. Outras cinco pessoas que estavam na mesma travessa foram atingidas por tiros e socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Na sequência foram mortos na Rua da Santa Fé os jovens Leandro Pereira de Oliveira, 22, e Jonatha Adriano Faustino, 16. Uma quarta vítima do mesmo episódio ainda não foi identificada.
Ainda segundo os registros da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), outras duas pessoas foram vítimas de disparos de arma de fogo em Felipe Camarão: Adailson Martins Alves da Silva, 26 anos, e Iure Alves, 23 anos.
A dupla foi atingida por tiros quando estavam em um bar na Rua Mirassol, na madrugada do domingo. Iure chegou a ser socorrido para o Pronto Socorro Clóvis Sarinho, mas não resistiu aos ferimentos.
A série de mortes e atentados a tiros em Felipe Camarão aconteceu um dia após o cabo PM Marcos Aurélio Lopes ter sido morto em Cidade Nova, também na zona Oeste da capital.
O policial Marcos Aurélio Lopes estava em um bar na rua São Sebastião quando foi atingido por vários tiros. De acordo com relatos feitos à polícia, dois homens chegaram ao bar a pé e atiraram contra o PM, após pedirem que todos se afastassem do local. Na sequência, os criminosos levaram a pistola dele.
Na entrevista coletiva que aconteceu ontem na Delegacia Geral de Polícia (Degepol), tanto o delegado responsável pela Especializada de Homicídios (Dehom) quanto o adjunto da corporação dizem que ainda não há como afirmar que a motivação dos homicídios em série seja uma represália à morte de Marcos Aurélio. “Ainda é cedo para afirmar o envolvimento de facções ou qualquer outra hipótese”, declarou Adson Kepler, adjunto da Degepol.
De toda maneira, o delegado Ben-Hur de Medeiros, da Dehom, garantiu que nenhuma das linhas investigativas será descartada pela polícia. Ben-Hur prometeu ainda empenho na resolução tanto desses casos, quanto dos demais assassinatos que acontecerem em Natal, o que inclui os casos de setembro na ZN, que permanecem sem elucidação.
Mensagem no Whatsapp aponta novas ameaças
Uma mensagem que circula pelas redes sociais indica que a série de mortes ocorridas neste final de semana no bairro de Felipe Camarão pode se repetir por todo o estado ainda durante esta semana. O comunicado divulgado principalmente através do aplicativo Whatsapp é assinado apenas por um grupo identificado como “A Ordem”.
O delegado-geral adjunto Adson Kepler destacou que a Polícia Civil só pode trabalhar com fatos. “Muitos boatos circulam nas redes sociais. Isso pode atrapalhar as investigações. De toda forma vamos rastrear a origem da mensagem”, destacou Kepler.
O texto que está cirulando desde a noite de domingo (15) indica que os “atos ocorridos no dia 15/11/2015” podem voltar a acontecer esta semana caso não seja encontrado o responsável pela morte do cabo Marcos Aurélio e que a pistola roubada seja recuperada.
“A Ordem” dá um prazo de 48 horas, que terminaram amanhã, para que seja feita uma “varredura”. O grupo iria buscar por pessoas que estariam “inscritas” em uma “lista negra”. “Esses não terão perdão. Irão pagar com sua própria vida”, pontua o texto.
Confira a mensagem na íntegra:
“Fatos ocorridos no dia 15/112015 poderá se repetir de forma mais enérgica e com mais intensidade. O começo foi Felipe Camarão e se propagará aonde tiver bandido relacionado na nossa lista. A nossa lista é extensa, morrerá todos que nela estiver inscrito. Tudo isso dependerá de dois atos de imediato. Queremos a cabeça do verme e a pistola do policial. Caso isso não ocorra em um prazo de 48 horas a contar do dia 16/11/2015, um Salve será dado em todo o estado e uma verdadeira varredura será dada em todos os bairros, principalmente nos bairros onde estejam os que estão inscritos na lista negra. Esses, não terão perdão. Irão pagar com sua própria vida. Quem fez a escolha foi vocês. Então, para que outros não morram, o tempo já está contando e as mortes que ocorrerão, depen-derão de vocês facções. Pedido: A cabeça do verme e a pistola do policial.....Que comecem os jogos!!!!
Ass: A ORDEM.“
Série de assassinatos após morte de PM em setembro segue sem resolução
A Delegacia Especializada em Homicídios (Dehom) também é a responsável por investigar 22 das 33 mortes ocorridas entre sexta-feira (21) e domingo (23) de setembro. Na ocasião, foram registrados pelos órgãos de segurança pública do RN 21 mortes apenas nas 24 horas seguintes à tentativa de assalto que culminou na morte do soldado PM Daniel Henrique e ainda deixou outro policial ferido.
De acordo como os laudos produzidos pelo Instituto Técnico-científico de Polícia do RN (Itep-RN), a maioria dos assassinatos daquele fim de semana violente teve características de execução, com tiros na cabeça e no tórax das vítimas.
Para ser ter uma ideia da onda de homicídios que se deram após o assassinato do PM Daniel Henrique, até o início da noite daquele sábado, antes da morte do policial, apenas quatro pessoas tinham sido executadas na Região Metropolitana de Natal.
Nos dias seguintes a Secretaria de Segurança Pública disse que os altos índíces de homicídio durante o fim de semana não teriam relação com o episódio da morte de Daniel.
À época, para o então chefe da delegacia especializada, Fábio Rogério da Silva, destacou que as equipes reduzidas do órgão complicavam as investigações dos crimes.
“As nossas equipes são muito reduzidas. São cinco equipes, cada um com três agentes, um delegado e um escrivão. Vamos continuar trabalhando da mesma maneira, não há muito o se que fazer, já que só em 2014 temos quase 500 homicídios em apuração”, disse Rogério ao NOVO publicada dias após os homicídios em série.
Duas equipes da Dehom foram destacadas para apurar informações na Zona Norte, foco de grande parte das mortes durante aquele final de semana.
Segundo informou ontem Ben-Hur de Medeiros, as investigações têm caminhado bem e que está perto de chegar aos culpados, mas não poderia dar mais detalhes.
Sob o comando do delegado Roberto Andrade, os policiais tentaram recolher o máximo de dados sobre os crimes. O chefe da investigação de homicídios na ZN disse então que relacionar as mortes com o assassinato do PM seria especulação.
Fonte: Novo Jornal