Cunha é alvo de nova denúncia

A Procuradoria-geral da República solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que abra um novo inquérito para investigar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com base nos documentos enviados pela Suíça que comprovam que Cunha possui contas naquele país. O pedido precisa ser avaliado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF. Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça ao Brasil comprovam que um negócio de US$ 34,5 milhões fechado pela Petrobras em 2011, no Benin, na África, serviu para irrigar as quatro contas no país europeu que têm como beneficiários Cunha, e sua mulher, Cláudia Cordeiro Cruz.

O "giro do dinheiro", como os investigadores classificam o caminho para chegar até o parlamentar, é considerado mais relevante do que o valor bloqueado pelas autoridades suíças em 17 de abril, no total de 2,468 milhões de francos suíços, o que representa aproximadamente R$ 9,6 milhões. Cunha tem negado a titularidade de contas. As quatro contas de Cunha e da mulher receberam ao todo R$ 23,2 milhões, segundo o MP suíço.  As autoridades suíças conseguiram bloquear apenas duas das quatro contas atribuídas ao parlamentar. Isso porque o deputado encerrou as outras duas em abril e em maio do ano passado, após o início das investigações da Operação Lava Jato. 

No documento, o procurador também pede investigação da mulher do deputado, Cláudia Cruz, e de uma das filhas do parlamentar, Danielle Cunha. O documento aponta indícios de que o deputado tenha cometido corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Por meio de sua assessoria, o presidente da Câmara disse que, com o novo inquérito, "poderá conhecer os dados e se defender". 

Em nota divulgada na semana passada, advogados do presidente da Câmara afirmaram que o parlamentar não foi notificado nem teve acesso a qualquer procedimento investigativo que tenha por objeto atos ou condutas de sua responsabilidade e questionam o vazamento de informações das investigações protegidas por sigilo.

Cunha já é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro. Neste processo o lobista Júlio Camargo - que fez delação premiada - declarou que Eduardo Cunha o pressionou, em 2011, por uma propina de US$ 5 milhões em contrato de navios-sonda da Petrobras. O presidente da Câmara não é réu nesta ação, mas foi denunciado por este caso ao STF pela Procuradoria-Geral da República. Como parlamentar, o peemedebista detém foro privilegiado perante a Corte máxima.

Ontem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, incluiu na denúncia contra o presidente da Câmara trechos da delação premiada do doleiro Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano.  Os termos da delação de Baiano citando Cunha ainda são mantidos sob sigilo, mas ele teria confirmado à Polícia Federal o pagamento de pelo menos US$ 5 milhões em propina ao peemedebista em contratos de aluguel de navios-sonda pela Petrobras.

PSOL condena negociação e busca apoio de internautas
Brasília (AE) -  Parlamentares do PSOL anunciaram ontem uma campanha nas redes sociais para pressionar o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados a dar andamento ao processo disciplinar por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os parlamentares rechaçaram as negociações que estariam em curso nos bastidores para "salvar" os mandatos do peemedebista e da presidente Dilma Rousseff. "Condenamos qualquer acordo de salvação de quem quer que seja. Quem ajudar vai afundar junto", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). 

Os parlamentares vão divulgar os e-mails dos 21 membros titulares e suplentes do colegiado nas redes sociais. Também pretendem difundir o telefone da Ouvidoria da Casa (0800-619-619) para que a sociedade cobre uma ação efetiva do Conselho de Ética no processo que pode culminar com um eventual pedido de cassação do peemedebista. 

"É inaceitável qualquer acordo de bastidor que ofenda uma representação legal. Repudiamos qualquer acordão", declarou o líder da bancada, Chico Alencar (RJ). A divulgação nas redes sociais também deve ser encampada pelos 54 parlamentares que assinaram o documento de apoio à representação.

O PSOL também condenou a tentativa de "enterrar" a CPI da Petrobras no momento em que as denúncias contra Cunha na Operação Lava Jato se intensificam. Um requerimento com o apoio de 14 deputados pedindo a prorrogação dos trabalhos da comissão já foi protocolado, mas ainda não foi votado em plenário. Sem a prorrogação da CPI, o relatório será votado e os trabalhos se encerram na próxima semana. Alencar disse que é preciso atuar para evitar que "tudo vire uma pizza só, de sabor duvidoso e inescrupuloso para proteger interesses". "A luz do sol é o melhor desinfetante", defendeu Alencar.

Não faltaram críticas ao comportamento dos partidos de oposição na Casa. No final de semana, os oposicionistas divulgaram nota pedindo o afastamento de Cunha da presidência da Casa, mas nenhum deles se manifestou em plenário nesta semana pressionando-o a renunciar à função. "A nota foi uma farsa", concluiu o deputado Glauber Braga (RJ). 

O vice-líder do governo, Silvio Costa (PSC-PE), negou "acordão". "Não existe nenhum tipo de acordo para operação de salvar A ou B", respondeu.

Fonte: http://tribunadonorte.com.br/

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